Lula pede a Barbosa que interceda na Receita Federal

SÃO PAULO - Três dias após a Polícia Federal ter entrado no Instituto Lula e apreendido documentos e senhas de computadores, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva telefonou para o ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, e pediu a ele que procurasse a Receita Federal para se informar sobre a investigação envolvendo a entidade. O instituto é alvo de apuração da Lava-Jato por suspeitas de que haveria uma “confusão operacional” entre a entidade e a empresa de palestras de Lula, a LILS.
A conversa foi breve, durou menos de três minutos. Barbosa atendeu o petista, colocando-se à disposição “pra (sic) o que der e vier”. Lula, em seguida, disse que gostaria da ajuda dele para “acompanhar o que a Receita está fazendo junto com a Polícia Federal” no caso da investigação do instituto.
Durante a conversa, o ex-presidente demonstrou contrariedade com a condução da apuração. “Você precisa se inteirar do que eles estão fazendo no instituto. Se eles fizessem isso com meia dúzia de grandes empresas, resolvia o problema de arrecadação do Estado”, afirmou o ex-presidente, conforme um dos relatórios de interceptações da Polícia Federal tornados públicos ontem na Operação Lava-Jato. Barbosa concordou: “Tá (sic)”.
Lula então argumentou que os investigadores estavam “procurando pelo em ovo” e reforçou a necessidade de o ministro “chamar o responsável (na Receita Federal) e falar 'que porra é essa?'”. Antes de terminar a ligação, Lula sugere a Barbosa questionar se a Receita está fazendo o mesmo “com a Globo, o Instituto Fernando Henrique Cardoso, o grupo Gerdau”.
No dia em que Lula foi conduzido coercitivamente, e o instituto sofreu a ação de busca e apreensão, o representante da Receita Federal na força-tarefa, Roberto Leonel de Oliveira Lima, disse que havia suspeitas de que a entidade, sem fins lucrativos, estivesse sendo usada para negócios particulares de Lula, como o agendamento de palestras, o que é vedado por lei. O GLOBO mostrou ontem que há indícios de tal prática também no Instituto do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.
Barbosa, em nota, informou que “até o momento, o Ministério da Fazenda não recebeu manifestação formal do Instituto Lula, mencionada na gravação, a respeito da atuação da Receita Federal” e que a pasta “dispõem de instrumentos institucionais que podem ser acionados por qualquer contribuinte para apurar eventuais excessos ou desvios”.
AÇÕES DE BUSCA E APREENSÃO
Desde o fim de fevereiro, Lula estava esperando por ação de busca e apreensão da PF em sua residência, em São Bernardo do Campo, assim como na de seus filhos. O que acabou acontecendo no último dia 4, quando foi deflagrada a 24ª fase da Operação Lava-Jato e Lula foi conduzido coercitivamente a depor.
Em 27 de fevereiro, Lula conversou com o presidente nacional do PT, Rui Falcão, e disse: “É eu tô (sic) esperando segunda-feira. Eu tô (sic) esperando segunda-feira a operação de busca e apreensão na minha casa, do meu filho Marcos, do meu filho Fábio, do meu filho Sandro, do meu filho Cláudio", disse Lula, segundo a PF.
Dias depois, em 2 de março, Lula falou com o senador Lindbergh Farias (PT-RJ) sobre uma outra suspeita: “Eu estou falando nesse telefone porque quero ver se a Polícia Federal está gravando... (risadas) Quero ver se está grampeado".
Na mesma conversa, Lula e o senador falam de uma suposta relação entre o presidente nacional do PSDB, Aécio Neves (PSDB), e a construtora Andrade Gutierrez. “Se a Polícia Federal e o Ministério Público, na delação da Andrade Gutierrez, não aparecer o PSDB nem o Aécio, qualquer brasileiro pode dizer que a delação é uma farsa, uma mentira".
O senador Delcídio Amaral (sem partido-MS) disse, na delação, que Aécio recebia propina de um esquema em Furnas. 

Fonte : Jornal O Globo.

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