O trabalho mostrará que mulheres com zika têm um índice de desenvolver microcefalia em seus bebês elevado muitas vezes
O Ministério da Saúde vai apresentar nesta quinta-feira à
Organização Mundial da Saúde (OMS) os resultados de um novo estudo que
aponta que as chances de um bebê ter microcefalia são multiplicadas se a
mãe for contaminada pelo zika vírus. Conforme o boletim mais recente,
são investigados 3.448 relatos suspeitos de microcefalia e o País já
confirmou 270 casos da má-formação. Com perspectivas de que uma vacina
só saia em três anos, o governo ampliará o combate ao vetor, o Aedes
aegypti, e para isso usará 220 mil militares das Forças Armadas para
visitar cerca de 3 milhões de residências.
O
debate sobre como lidar com a doença, que se espalha por diversos
países, passou a fazer parte das prioridades da OMS nos últimos dias e,
nesta quinta, a entidade organiza reunião especial para tratar do
assunto. "O mundo inteiro está preocupado", disse ao jornal O Estado de
S. Paulo a diretora-geral da OMS, Margaret Chan. Ela fará um alerta
inicial no encontro, seguido por uma declaração da diretora da
Organização Pan-Americana de Saúde (Opas), além de intervenções do
Brasil e dos EUA.
Um dos principais pontos do
encontro, porém, será a apresentação da pesquisa que estabelece uma
relação entre o zika e a microcefalia pelo diretor do Departamento de
Doenças Transmissíveis do Ministério da Saúde, Claudio Maierovitch. "O
estudo mostrará que mulheres contaminadas pelo zika têm um índice de
desenvolver microcefalia em seus bebês elevado muitas vezes", disse o
chefe da delegação brasileira nas reuniões da OMS, Jarbas Barbosa.
A
busca por estabelecer uma relação entre a má-formação e o vírus também
fará parte dos trabalhos conjuntos entre Brasil e Estados Unidos. Ontem
em Genebra, Barbosa se reuniu com representantes do governo americano
para consolidar a aliança entre os dois países, com destaque para o
desenvolvimento de um imunizante.
Barbosa
destacou, porém, que uma vacina apenas poderia começar de fato a ser
usada em três anos. "O prazo normal de uma vacina é de dez anos para ser
desenvolvida", declarou. Um primeiro grupo de especialistas brasileiros
do Instituto Evandro Chagas seguirá para a Universidade do Texas na
semana que vem para dar início à cooperação e outras missões seguirão
nos próximos meses.
Combate
Enquanto
não existe vacina, o governo federal decidiu nesta quarta-feira
detalhar a estratégia para ampliar o combate ao Aedes pós-carnaval,
mobilizando 60% do efetivo das Forças Armadas (Exército, Marinha e
Aeronáutica). O anúncio aconteceu dois dias depois de a presidente Dilma
Rousseff cobrar demonstrações públicas de ação.
Inicialmente,
50 mil homens atuarão diretamente visitando residências para eliminar
focos de proliferação do mosquito e orientar moradores. Essa ação
ocorrerá entre os dias 15 e 18 do próximo mês e será articulada em
conjunto com o Ministério da Saúde e com os governos estaduais e
municipais. Atualmente, há 2 mil militares nas ruas.
A
tropa completa, de 220 mil homens, vai ser mobilizada para atuar em uma
campanha de caráter educativo, com a entrega de panfletos com
orientações à população. A mobilização está prevista para ocorrer no dia
13 de fevereiro e a ideia é visitar 3 milhões de casas em 356
municípios - 115 deles considerados endêmicos.
O
Ministério da Defesa também vai colocar homens e mulheres para
participar da campanha que o Ministério da Educação vai realizar em
escolas. Depois do puxão de orelha da presidente, os ministros Jaques
Wagner (Casa Civil) e Marcelo Castro (Saúde) também iniciaram ontem uma
rodada de negociações para comprar repelentes que serão distribuídos a
cerca de 400 mil grávidas inscritas no programa Bolsa Família.
Balanço
O
Ministério da Saúde informou nessa quarta-feira que há registros de
microcefalia em 23 Estados e no Distrito Federal e os relatos atingiram
830 municípios no País. São 3.448 casos suspeitos de microcefalia, 270
confirmados - 6 com relação confirmada com o zika vírus - e 462
descartados. Entre 22 de outubro e 23 de janeiro deste ano, o governo
oficializou 4.180 notificações - englobando casos em investigação,
confirmados e descartados. Também foram registradas 68 mortes durante a
gestação ou após o nascimento. Sobre as mortes que foram contabilizadas,
12 têm relação confirmada com infecção congênita e dez delas
aconteceram no Rio Grande do Norte. Outros 51 óbitos estão sendo
investigados.
Professor de infectologia da
Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Celso Granato diz que a
possível subnotificação dos casos de microcefalia antes do surto, tendo
em vista que a notificação não era compulsória, fez com que
especialistas em saúde e órgãos como o ministério não tivessem a real
dimensão do problema no País. "É possível que o número de casos já fosse
maior, mas estava subnotificado", explicou o também diretor-clínico do
laboratório Fleury. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Fonte: Diária de Pernambuco.
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